quinta-feira, 8 de abril de 2010

Exposição POEMAS DE WALDEREZ DE BARROS ILUSTRADOS EM 21 GRAVURAS no MACRGS em Porto Alegre

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Walderez de Barros fotografada por J.J. Name

De 1 de abril a 16 de maio de 2010 a Galeria Xico Stockinger do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, localizado na Casa de Cultura Mário Quintana no centro de Porto Alegre, apresenta a exposição de 21 gravuras ilustrativas dos poemas escritos pela atriz Walderez de Barros, uma das maiores atrizes brasileiras de teatro, cinema e televisão.

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A iniciativa desta mostra é do grupo de artistas plásticos de São Paulo integrantes do Ateliê Calcográfico Iole, coordenado pela artista Iole Di Natale. E conta com o apoio da ABA-Núcleo, a Associação Brasileira de Aquarela e da Arte sobre Papel. O grupo é composto pelos gravadores Anna Vieitas, Antônio Carlos Rampazzo, Bia Simões, Carla Petrini, Cassiano Pereira Nunes, Francisca do Val, Gilberto Habib Oliveira, Graça Grant, Heloisa Pessôa, Israel Kislansky, Ivone Beltran, Letícia Almeida, Marina Martinelli, Mary Carmen Bosque, Nilmar Silveira, Rafaela Prestes Franco, Ruth Sprung Tarasantchi, Silvia Raso, Valdo Rechelo e Zilá Troper. A mostra comemora ainda os 30 anos do Ateliê Calcográfico Iole.
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Aspectos da abertura da exposição
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Muitos conhecem a atriz Walderez de Barros por seu consagrado desempenho no teatro, grandes interpretações em novelas e marcante atuação no cinema, além dos inúmeros prêmios recebidos em 45 anos de carreira. Entretanto, poucos sabem de seu talento literário que agora inspira o trabalho deste coletivo composto por 21 gravadores. Juntos, estes artistas selecionaram 16 poemas de Walderez, dentre muitos outros ainda inéditos, feitos em um clima introspectivo e particular paralelo à sua atividade principal como atriz.
A exposição trata do percurso lírico-literário de uma grande mulher que extravasa a percepção comum das coisas e envereda pela compreensão mais atenta da realidade, narrando seus sentimentos diante do mundo e do cotidiano onde nunca deixou de protagonizar a dúvida, a alegria, a dor, o prazer e tantas outras possibilidades humanas.
Impactada pela beleza e pela experiência universal que estes poemas representam, a artista plástica e gravadora Iole Di Natale decidiu reunir em seu ateliê um grupo de 21 artistas que escolheram 16 poemas de Walderez para serem ilustrados segundo a técnica da gravura em metal, também conhecida como calcogravura.

O projeto levado a cabo durante dez meses pelo Ateliê Calcográfico Iole consiste de 21 ilustrações, feitas por cada um dos artistas que descrevem suas interpretações pessoais dos poemas de Walderez, transformando-os em imagens impressas sobre papel. O processo técnico que envolve uma matriz de cobre permite uma tiragem limitada de 30 cópias, de cuja edição, organização e apresentação resulta um álbum ilustrado, que agora se transforma em exposição para ser apreciado pelo grande público.
GH Oliveira

Exposição Poemas de Walderez de Barros ilustrados em 21 gravuras no MAC - RS
Exposição: 1 de abril a 16 de maio de 2010
MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO RIO GRANDE DO SUL - Galeria Xico Stockinger
Rua dos Andradas, 736 – 6º andar tel 3221 5900
Terças a sextas das 9:00 as 21:00h
Sábados e domingos das 12:00 as 21:00h

Vídeo da exposição em Porto Alegre realizado por Gilberto Habib Oliveira já baixado no Youtube
Para assistir só clicar no endereço abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=R8h-_VmGGUU

Outros links relacionados:

http://www.cultura.rs.gov.br/internas.php?inc=assessoria&cod=1269969509http://www.cultura.rs.gov.br/internas.php?inc=assessoria&cod=1269969509

 http://associacaochicolisboa.blogspot.com/2010/03/exposicao-poemas-ineditos-de-walderez.html




OS POEMAS E AS GRAVURAS QUE OS ILUSTRAM

Custo a acreditar, meu Deus
que cumpro
meu destino
enquanto escovo os dentes
placidamente
diante desse espelho
que já nem me reflete

 Gravura de Gilverto Habib Oliveira
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Gravura de Ivonel Beltran

Agora o vento é frio
e me penetra agudamente
quando reparo nele
e no entanto estou sentada
calmamente
e quase sem esforço
escrevo e sinto

Pudera eu assim
como estou agora
penetrar nos meus pensamentos
e desvendá-los
mesmo quando frios e áridos

Pudera eu assim
apoderar-me do significado
da minha existência
e satisfazer essa febre do mistério
que me anima

No entanto estou sentada
e calmamente penso
enquanto o frio se achega
e a minha vida passa

E nada do mistério se desvenda

E no entanto permaneço assim
como se todas as ações do mundo
estivessem como eu
à espera de coisas
que não se fazem nunca

Parece-me sensato que eu aguarde
enquanto estou sentada e calma
e no entanto também aguardo
quando já estiver longe daqui
e meu sossego estiver quebrado

Pudera eu saciar-me
de compreensão
em todos os momentos
e não me fosse rara
essa percepção de felicidade
que se esconde sempre

E no entanto
eu continuo a reparar
que o vento se esfria
e que já não posso
estar sentada e calma

E nada do mistério se desvenda.

Gravura de Nilmar Silveira


 Gravura de Bia Simões

Sempre, apenas, assim
de repente
simples como o começo e o fim
no infinito
Aqui, no momento, já
sem antes nem depois
agora:
a vida flui
e eu
fatal como ela.

Gravura de Israel Kislansky


Gravura de Iole Di Natale

Que barreira posso colocar
à frente desse precipício?

Mover pedras
eu não tenho forças
me sinto indo
caindo, meu Deus
no fundo

Que barreira posso colocar
à frente desse precipício?

Parar não posso
sinto-me empurrada
caminhar
caminhar
alguém me puxa
meu Deus, pra onde?

Que barreira posso colocar
à frente desse precipício?

Gravura de Marina Martinelli


Gravura de Francisca do Val

Tenho a cabeça cheia de palavras
e da minha boca
só sai pensamento.
Tenho tentado em vão
dizer as coisas
simples
como elas são.
Tenho tentado sempre
ser um manso-quieto
viver a vida
sem elocubrar.

Que erro básico
na minha estrutura
não me permite
viver como pedra?

Gravura de Cassiano Pereira Nunes

Roubei uma flor
da minha vida
e fiz um grande poema
Roubei um grande poema
que estava sendo inútil
e fiz uma canção
com música
roubada
ao vento meu amigo

Meu poema ficou triste
e perfumado
Ele quer ser flor
Minha canção não canta
Ela não quer cantar
O meu amigo vento
já não me acaricia
nem me faz sons
para me contentar

Estou sozinha
com armas violentadas

Eu quero a flor?
A flor já é poema...


Gravura de Silvia Raso


Constato que não mudei.
Mudam as coisas
a paisagem
o mundo é outro
na aparência
de problemas novos

Constato que não mudei.
À margem da História louca
desse tempo louco
desse desamor
desse desencontro
- incomunicável.

Constato ser a nostalgia
ser aquela antiga
aquela que nasci
que sou.

Nada tenho a acrescentar
de mim.
Constato que não mudei.
À margem fui
e aqui estou.

Gravura de Carla Petrini


VIAJANTE

Nunca mais
ele freqüentará meu corpo
como o viajante que ele era
cego
em busca do seu porto


Nem estarei
repousada em suas mãos
como nos tempos da entrega
quando não havia tréguas
- mas a paz duradoura


Gravura de Mary Carmen Bosque


Esta é uma hora clara e límpida
de deslumbramento
de desnudamento
Vem
quero te entregar
meu corpo
como se fosse alma
inteiro
limpo
sem os meus fantasmas
Quero te entregar
a alma
como se fosse irmã
amiga gêmea
sem as minhas mágoas

Gravura de Rafaela Prestes Franco

(para a Iole Di Natale)

enquanto ele ensaia o carinho conhecido
a mão passeando pelo meu corpo
que apesar
se excita e se comove
enquanto se excita
e comovido
se entrega
enquanto
ele repousa em mim
e ao lado depois
enquanto espero
repousar tranqüila
enquanto espero

Amanhã um viajante solitário
não me falará
nem de política
nem de situação financeira
nem do caos mundial

Ele me tomará
como sua
como sou
e enquanto sou
um universo único e desconhecido


Gravura de Ruth Sprung Tarasantchi

Eles nos aplaudem
depois vão embora.
O dever cumprido.
Pra eles a digestão
fácil, pra nós
a solidão.

Quem conhece esse vazio
dilatado
do útero
depois do parto
depois da contração?

Nessa hora maior de solidão
nenhum eco
é bastante.
E a morte vem
à espreita
tentadora
até a próxima função.


Gravura de Zilá Troper

Não se pode resistir à felicidade
quando ela se apresenta inteira.
O convite é sempre maior
que infinitas vontades de recusas.
Não se pode resistir ao Amor
quando é encontrado
mas se pode sempre encontrá-lo
recusado. Quando é perfeito.
Pode-se amar sem liberdades
e sem razões. Ama-se assim.
Pode-se ser feliz incoerentemente
e em horas súbitas. Pode-se.
Só não se pode ser feliz
amando
em horas súbitas
incoerentemente.
Não se pode.

Troca-se o igual
pelo diferente
sem qualquer surpresa.

O que iria inquietar
uma alma
sem perguntas?



Gravura de Valdo Rechelo

Gravura de Anna Vieitas

qual incurável demência
essa cabeça minha sempre me transcendeu
e se caminho, ela pára
e medita, e se ri, e lamenta
e quando paro
ela se adianta
e me convida, me acena
finge me orientar
e abandona, se esconde.

é assim luta bravia
esse meu querer me achar com ela
e ela a zelar pra que eu me perca.

quantas renascenças, quantas!
quantas tentativas, quantos desacertos!
quantos levantar, após choradas quedas!
quantos abandonos, quanto ardor sofrido!
quantos (tantos!) amanhãs perdidos!

fui assim nascida e renascida
e assim morro e renasço a cada dia
até que a morte total me desiluda
e me converta ao pó dos tempos
e me espalhe por tudo e por todos
tardiamente
quando eu já não souber mais de mim.

enquanto sou carne e pensamentos
me dou a eles e eles me devolvem dúvidas
e assim vou me desentendendo com o mundo
e dos homens vou tendo pálida lembrança
enquanto sou carne e pensamentos.

Gravura de Letícia Almeida

Eis que retorno, amado
com meu gesto vacilante
minha dúvida
colada à minha impaciência

Eis que minha presença
já agora indefinida
volta ao teu desejo
como volta que desejo

Os tempos do meu amor
se limitaram
Já não sei te amar pelo infinito
já nem posso aguardar horas tardias
Estou só
por isso volto a ti
Mas não posso te amar pelo infinito
estou reduzida à minha brevidade
como gota brilhante
em vias de se diluir
meu amor por ti
em vias de se diluir
Agora o dia amanhece
mas se vai depressa
Rápido é o momento
em que me dou a ti
porque rápida é a esperança
que tu dás a mim

Estou em ti
como nuvem passageira
branca e tranqüila
de fragilidade

Eu queria ser repouso
enquanto durasse a possibilidade
mas novamente eu serei partida
enquanto dura a possibilidade



Gravura de Antoni Carlos Rampazzo

No exercício de ficar
calada
me agucei.
Estou afiada
como lâmina de cristal
transparente
pra quem quiser
enxergar através.

Dente
língua
boca
não falo com palavras
nunca mais.
Estou sensível
como um grão de areia.
Mas tenho memória
a história
a biografia
pra encadernar.

A mão
a palma
os dedos
cada fio de cabelo
sou eu.
De tão inteira.

Gravura de Graça Grant


Isso é só o começo
Dizem que é assim essa febre
de gripe erótica.
O mínimo que dá é delírio
o máximo é transbordamento.
Não caber nas roupas
e estar
com o corpo sem alimento.
Não caber na casa
imensa e desabitada
mesmo com a multidão
de sonhos
que nela agora habitam.
Não caber no mundo
que antes era infinito
e agora é estreito, chato, sem ar.



Arde o peito e palpita.
Uma lembrança
invade as paredes
e tudo resplandece.
Depois os pés caminham
na direção do abismo.
A temperatura oscila entre
incêndio
e geleiras.
Estar viva
e morta
de amor.

Gravura de Heloisa Pessôa


Poemas, gravuras ...

A maior riqueza desta exposição é congregar diversas expressões artísticas, sedimentadas na vida e na obra dos muitos artistas aqui presentes.

O desprendimento e a sensibilidade de Walderez de Barros foi, como poderemos ver, a mola propulsora disso tudo. Por meio de seus escritos sobre si mesma e sobre a vida, ela nos levou a criar imagens que são meios de reflexão à respeito dela e, como não poderia deixar de ser, à respeito de nós mesmos. É engraçado pensar que neste processo somos também seus “intérpretes”, enverandando pela seara na qual ela é uma das maiores referências nacionais. Vale dizer que este é o foco do trabalho dos gravadores, que comprova com suas lentes a possibilidade de sempre poder haver uma outra Walderez por trás daquela que supostamente conhecemos.
Conjecturas à parte, fato é que nada disso seria possível sem os laços de amizade reais entre Walderez de Barros e Iole Di Natale, por onde tudo começou e, por conseguinte, foi sendo mantido entre nós, frequentadores do Ateliê Calcográfico Iole. Foram cerca de 14 meses de muito trabalho concretizado com a ajuda de muitos parceiros. Agradecemos a todos que nos apoiaram nesta jornada.

A gravura em metal e o trabalho no Ateliê Calcográfico Iole

A gravura em metal teve sua origem na técnica de gravação utilizada para ornamentar armaduras de cavaleiros, no fim da Idade Média. Este processo passou a ser aplicado na confecção de imagens em chapas de metal que transferidas para o papel, ajudaram a difundir a técnica da gravura em metal no mundo inteiro, sobretudo nos mapas e nas ilustrações para livros. Entretanto, ainda no século XVI e XVII, artistas como Dürer e Rembrandt deram a esta técnica o status digno dos outros suportes da arte, permanecendo assim até nossos dias.

O metal mais utilizado para gravação é o cobre em função de sua maleabilidade e outras facilidades. Por isso essa técnica é também chamada de calcografia (calco = cobre).

Os processos básicos de gravação do metal podem ser obtidos por meio da corrosão de ácidos (água-forte, água-tinta etc) ou por incisão direta da chapa (ponta-seca, buril, maneira negra, entre outras). A tinta de impressão permanecerá depositada nos sulcos gravados sendo depois transferida para o papel por meio da pressão aplicada pela prensa.
Gilberto Habib Oliveira

2 comentários:

  1. nossa, quanta coisa linda! parabéns a todos. adrianne

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  2. Parabéns!!! Adorei! Adoro os poemas de Walderes e as gravuras são belísssimas.
    Beijos
    BethLeopardi

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